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Nota de repúdio ao "JN no Ar" sobre a educação no Brasil

Olá amig@s!

Estava preparando um texto para o blog sobre a "Blitz" do Jornal Nacional que visitou escolas públicas no Brasil para "Mostrar" como está a alfabetização quando me deparei com e-mail do Professor Arivaldo Alves Vila Real. 

No texto, endereçado a William Bonner, o Professor Arivaldo fala alguns pontos relevantes ao "fracasso" da série JN no Ar em mostrar a realidade escolar do nosso país, sobretudo ao episódio gravado na cidade de Goiânia, Goiás. Até o momento não houve resposta por parte da redação do Jornal Nacional.

Não esqueça de deixar seu comentário! Qual sua opinião sobre a série de reportagens exibidas pelo JN no Ar sobre a educação no Brasil?

Veja texto na íntegra:

Bom dia!
Sobre a reportagem do JN no Ar, exibida ontem, dia 19/05, que mostrou o perfil de duas escolas, da rede municipal, visitadas na grande Goiânia, quero neste contato, declarar a minha inquietude e indignação. Sou professor há pouco mais de um mês na Escola Municipal Maria Araújo de Freitas, na modalidade de educação para adolescentes, jovens e adultos no turno noturno. Ao assistir a matéria com meus colegas do turno noturno ficamos chocados, pois foi polêmica, tendenciosa e irresponsável.

Polêmica porque não ficou claro para os telespectadores o que é IDEB, como a análise é feita, porque o IDEB foi o mais baixo do Centro-Oeste, quais as projeções das unidades escolares feitas pelo MEC em cada modalidade; não teve análise do perfil do público, não foi mostrado que o IDEB é um indicador estatístico e que  nasceu como condutor de política pública pela melhoria da qualidade da educação e que sua composição possibilita não apenas o diagnóstico atualizado da situação educacional, mas também a projeção de metas individuais intermediárias rumo ao incremento da qualidade do ensino. O IDEB não existe para taxar a escola como melhor ou pior.

Tendenciosa porque fizeram questão de justificar os termos “a melhor” e “a pior” exibindo em letras garrafais os salários pagos aos professores das duas escolas com diferença de R$500,00 exibindo a professora Gisele como muito bem paga com salário de R$1.600,00, numa escola visivelmente bem estruturada e outra professora numa escola “simples”, com salário de R$1.100,00; comparou a gestão e o corpo docente das duas escolas, colocando uma de comprometida e a outra então seria o quê? Irresponsável? Foi tendenciosa sim porque o Brasil soube que uma das gestoras já administra a escola há 8 anos, mas não perguntaram há quantos anos a professora Suzy é gestora; colocou que uma escola é de bairro pobre e a outra? É de bairro nobre? Quem disse isso? Não perguntaram como era a escola de pior IDEB em 2009, ano em que a avaliação externa foi aplicada. Se tínhamos alunos traficantes ou usuários de drogas, indisciplina estabelecida, falta de recursos, uma metodologia fracassada em toda a rede, professores mal pagos, prédio e equipamentos surrupiados.

Foi tendenciosa sim, William Boner, pois o salário pago é o mesmo, só que esqueceram de perguntar porque a professora que ganha o miserável salário de R$1.600,00 fez e faz para consegui-lo: como ser aprovada em concurso público, estar na rede a mais de 20 anos, ter feito pós-graduação, cursos de formação continuada e o pior dobrar a carga-horária que chega a 60 horas semanais; e não existe diferença salarial na rede municipal de Goiânia, existem diferenças de conquistas, inclusive se o professor é concursado ou contratado temporariamente.

Foi tendenciosa, pois vocês justificaram o melhor e o pior IDEB comparando a parte física da escola e que uma melhor que a outra por problemas de gestão, o que foi mostrado como uma estrutura boa é resultado de conquistas da gestora (que está na função porque foi eleita por voto secreto e direto, num processo eleitoral transparente e democrático), na manutenção realizada pelas funcionárias da limpeza, por mutirões feitos pela comunidade e outras lutas.

O tema do JN no Ar é a base da vida – a educação – mas a reportagem foi irresponsável e inconsequente, pois foi feita com base em resultados de 2009 e esqueceram que existe uma comunidade dentro e em torno da escola, são alunos, pais, professores, vizinhos – comunidade esta que está sofrendo as consequências, sendo taxada de “burra”, de “escola fracassada” e outros termos pejorativos mais. O IDEB apresentado é da prova de 2009 e o ano em curso é 2011, então, considero sim, a reportagem irresponsável, porque uma gestora que está no comando da escola em menos de 2 anos não pode ser taxada de descomprometida em detrimento de outra que dirige a escola há 8 anos; Irresponsável porque temos alunos matriculados nos três turnos e estes já estão sofrendo com bullying, sendo chamados de burros, que estudam numa escola ruim, que a escola vai fechar, e acredito que não, pois na aula após a reportagem ouvi os alunos dizerem com tristeza que não vão pedir transferência, pois consideram a escola um refúgio, pois ali são tratados com muito carinho e respeito, alimentam bem, os professores demonstram responsabilidade, compromisso e acreditam na capacidade de cada um.

Irresponsável porque passaram a bola e a responsabilidade da qualidade de ensino apenas para o professor e ainda exibiu salários de R$1.100,00 e R$1.600,00 como se os professores fossem muito bem pagos em um país em que um deputado federal analfabeto e palhaço recebe pelo menos R$ 98 728,08. Além dos vencimentos, tem R$ 50 815,62 para pagar os assessores, mais R$ 4 268,55 para despesas postais e telefônicas e verba de transporte aéreo que oscila entre R$ 4 253,91 e R$ 16 938,44. Isso sem contar as despesas médicas, todas reembolsadas, o direito a publicações, o material de escritório, apartamento funcional, carro de luxo com motorista, segurança e as despesas comuns de manutenção da Câmara.

Gostaria de saber em que a reportagem contribui para a melhoria da qualidade de ensino, em que colaborou para elevar a autoestima de toda uma equipe de uma escola que luta para melhorar o fazer pedagógico.
Repudio a reportagem por não respeitar o processo democrático nas escolas e de desconsiderar os anseios da comunidade escolar.
Este é o meu parecer.

Arivaldo Alves Vila Real
Professor (com salário de R$1.187,00 – sem os descontos, pós-graduado, concursado, que viaja 20 quilômetros para chegar à escola, um dos autores do currículo de Língua Portuguesa da rede estadual de Goiás, com 20 anos de carreira)
Meu e-mail caso queiram responder é ary.vilareal@gmail.com


2 comentários:

  1. Infelizmente o jornalismo no Brasil é feito de forma superficial e irresponsável,isso qdo não apelam para o sensasionalismo. Ainda bem que podemos discutir de forma democrática em outros veículos de comunicação. É realmente desprezível a forma como fazem e o pior é q nem sequer temos chance de nos defender. Para piorar a situação a globo tem um poder ilusório destrutivo q transforma qq besteira em verdade absoluta. Mas vamos continuar lutanto,afinal, não iremos admitir ser feitos de fantoches de um sistema tão corrupto.

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  2. Para quem estar de fora é fácil falar, pois não sabe da verdadeira realidade. Ganhar R$ 1.600,00 e trabalhar em várias escolas e só ganhar isso por fazer pós, cursos e tudo custeado pelo seu salário. Queria que tivessem vindo para Pernambuco para ver a situação que os professores passam recebendo o valor de R$ 900,00 e com pós também. Hoje em dia, nós professores somos chamados de "sofressores", mas esquecem que muitas vezes fazemos os papel de pais. Não me arrependo de ser professora, mas fico triste ao ver a nossa luta por uma educação verdadeira ser transformada pele tv como uma luta desnecessária.

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